o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

em nome da construção do que há de mim para o mundo ser

eu sinto falta dos tempos calmos dedicados
ao toque do sol sobre flores brancas
sinto falta de sorrisos de estranhos
equilibrando a balança da minha alma
sinto falta de escrever sobre a textura
dos cabelos das pessoas que amo
sinto falta de observar o esconderijo
da lua dentro da terra
sinto falta de chorar de emoção
estarrecida com um quadro que me encontrou por acaso
sinto falta de acariciar as peles
das minhas irmãs por horas
sinto falta do espelho valer como
direção alternativa da profundidade
sinto falta da grama acolhendo os
meus pés como poças de chuva
sinto falta dos corpos dos insetos
abrindo caminhos no solo
sinto falta das entregas absolutas
como a dos pássaros diante do céu
sinto falta da voz que pode falar
sobre a vida secreta do mar
sinto falta da suficiência
de entrar em olhos que convidam
sinto falta de mergulhar nos rios
que traçam o trajeto das pedras
sinto falta de acompanhar o crescimento
do tronco de uma árvore por anos
sinto falta do milagre do sangue
percorrendo as minhas veias
sinto falta de respirar sem aparelhos

Um comentário:

  1. Das poucas vezes em que eu fiquei agradecido por minha insônia, o dia de hoje é uma dessas vezes. Eu acho que não sou fã de poemas pois não consigo enxergar com tanta sutileza e profundidade a beleza de simples gestos, como acariciar a pele dos irmãos ou sentir a grama sobre os pes. Você escreve incrivelmente bem Francis, e agora vou iniciar a minha jornada literária dentro de seus poemas.

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